Artigo de Opinião


O necessário ato de cuidar de si

Como cuidamos de nós mesmos? Como tenho pautado a necessidade de bem-estar? Esta não parece uma temática supérflua e desnecessária a ser tratada?

Parece que vivemos situações extremas quando abordamos a temática do cuidado de si. De um lado, existem narrativas que até ignoram tal preocupação. Como posso estar tão preocupado com o meu bem-estar diante de um mundo marcado por tantas desigualdades! E, por outro, há narrativas em excesso, mas tratando especificamente de estética corporal, onde as pessoas são levadas a olharem para o seu corpo a partir de padrões determinados por uma lógica mercadológica.

Entretanto, parece que não devemos trilhar por nenhuma destas narrativas. É importante a compreensão de que não somos apenas corpo, cuidar de si não se resume apenas a cuidados estéticos, mas é parte da nossa existência. Como é importante a compreensão da tridimensionalidade que abrange o nosso ser. Enquanto pessoa, somos seres marcados por três dimensões: somática, psíquica e noológica ou espiritual.

Cuidar da saúde corporal é necessário para o bem-estar do nosso ser na sua completude.  Isso vale para o cuidado da saúde psíquica, como também do bem-estar espiritual. O nosso ser cultiva a necessidade de equilíbrio entre estas três dimensões.

O cultivo de boas relações para consigo, com o outro, com o ambiente e com a dimensão transcendental é caminho necessário para se estar bem. É somente mediante esta boa convivialidade que podemos, enquanto pessoas, cultivar a amorosidade. E é somente pelo amor, que podemos enxergar melhor a nossa pessoa, enquanto ser biopsiconoológico.

O ser humano não necessita apenas de comida para estar bem. É como é dito: a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão, arte, liberdade, felicidade, amor... Reduzir a vida apenas ao suprimento de necessidades básicas, não vai nos garantir estar bem. Ao mesmo tempo, querer limitar o bem-estar apenas ao psíquico, pode inclusive comprometer a nossa saúde emocional. Mas, não podemos ignorar o quanto é importante o equilíbrio desta dimensão em nossa vida. Afinal, é o desequilíbrio nesta dimensão que vem causando tantos estados de adoecimento. É a dimensão noológica ou espiritual que faz em nós a diferença, que nos possibilita transcender até mesmo limites das duas outras. Há quem afirme que a dimensão espiritual é a que jamais adoece, mas que nos ajuda a superar todo e qualquer desafio que venha ao nosso encontro.

É importante compreender que a dimensão espiritual não pode ser reduzida as nossas profissões de fé ou as nossas vivências religiosas. Entretanto, é por meio dela, que podemos vivenciar de forma mais plena as nossas vivências religiosas.

O necessário ato de cuidar de si está associado a um olhar mais pleno sobre o nosso ser, a fim de que se possa cultivar olhares diferenciados sobre o nosso ambiente, os seres que nele habitam e as pessoas que vivem ao nosso redor. Tudo está interligado. Somos parte de uma grande teia. É salutar a compreensão de suas interconexões.

Neste aspecto, é valorado aspectos como saber aproveitar os momentos com as pessoas do nosso convívio familiar, laboral e até mesmo aquelas que nos encontramos de forma aleatória. Cada momento é único e é por meio deste que podemos redimensionar a nossa existência.

No ato de cuidar de si, somos até mesmo indagados como apreciamos os momentos de nossas refeições. Será que paramos apenas para ingerir comida ou temos a capacidade de contemplar que parte de mim vai ser definido por aquilo que consumo enquanto alimento. Como degusto aquilo que entra pela minha boca! O que me alimenta tem mais proximidade com a terra ou apenas me alimento com aquilo que é processado pela indústria? Qual a relação que há entre a alimentação e a saúde do corpo ou até mesmo psicológica. Eu como apenas por comer ou cultivo neste momento uma dimensão de fé, de agradecimento por aquilo que tem chegado até mim, fruto da terra e do trabalho humano e que por este ato sagrada se tornará caminho para o meu bem-estar.

O ato de cuidar de si não é um ato egoísta, mas pelo contrário, vem a ser um ato altruísta. Cuido de mim, não apenas para estar em paz comigo, mas para que eu possa melhor servir ao próximo, sendo amável e, consequentemente, cultivando amorosidade.

Cuidar de si para cuidar do outro é missão de todos nós. É o que nos garante viver em harmonia enquanto estamos nesta grande nave, também chamada de nossa casa comum.

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