Artigo de Opinião


Não está entre os mortos

Que medos se fazem presentes no meu cotidiano? Como precisamos fazer esta pergunta! E é importante não somente fazê-la, mas transformá-la num ponto de meditação. Muitas vezes é por medo que desenvolvemos as nossas ações ou deixamos de fazê-las! O medo nos aprisiona, tira-nos a liberdade! É pelo medo que muitas vezes, em nossas relações, fazemos tudo para agradar ao outro, não havendo gratuidade na forma como nos relacionamos com o próximo.

Toda e qualquer relação em que o medo está à frente, cultiva-se a tirania e a subserviência. De um lado, a pessoa vai exercer o domínio sobre a outra, levando o outro a somente fazer algo que lhe agrade ou que seja por ele determinado. Por outro, o subserviente perde a sua capacidade criativa e fica num estado de sempre querer ouvir o que é para ser feito ou o que é para ser dito. Já observamos como este tipo de relação pode ser frequente desde a nossa casa às relações de trabalho ou até mesmo entre pessoas amigas? De tanto cultivarmos a tirania e a subserviência, vamos promovendo relações não saudáveis e contribuindo para a pulverização de males que contribuem com a promoção de estados de adoecimento.

Como é necessário conversarmos mais sobre os nossos medos! Somente assim, podemos deles tomar consciência e é através da qual que poderemos exorcizá-los de nossa vida. O fechamento diante do medo, é um indicativo de que estamos sendo por ele dominados! Como podemos falar de paz e de amor se não somos capazes de viver em estado de liberdade? Muitas atitudes de violência que se fazem presentes em nosso meio são germinadas num solo permeado pelo medo. Quanto mais forte é pronunciado o grito contra o outro, mais é um indicativo de que a relação não está saudável: alguém está querendo se impor pela força ou pelo poder que lhe fora confiado! Nenhuma relação de subserviência contribui com o crescimento: nem de quem oprime, nem de quem é oprimido.

A relação de subserviência impede a força criativa do amor agir em nós. É o que se poderia chamar de pecado contra o Espírito. Na liturgia deste segundo domingo da Páscoa, o evangelista João narra sobre o estado como se encontrava a comunidade cristã, dominada pelo medo (Jo 20-19-31). A presença do ressuscitado vem justamente para ajudar a cada um nesta tomada de consciência sobre o estado emocional vivido por cada um deles. O ressuscitado se apresenta não como um fantasma, mas como alguém que não fora derrotado pela tirania dos poderes constituídos. É pela força do ressuscitado, que a vida vence a morte. Ao mesmo tempo, proclama-se que a vitória se dá justamente pela fidelidade ao que fora assumido na missão, sendo isto apresentado nas marcas presentes no corpo glorificado, ou seja, o ressuscitado é o crucificado.

A presença do ressuscitado vai ganhando força quando cada pessoa que ali estava trancafiada começa a falar sobre o que estava impedindo de sair daquela situação. Jesus Cristo entra em cena para dizer que ele permanece firme entre eles e é somente com esta tomada de consciência que se tornam capazes, pela força do Espírito, de serem continuadores da missão salvífica proclamada por Jesus, o Filho Amado de Deus.

O sentimento de derrota, cultivado pelo medo, começa a ser esvaziado e as pessoas começam a se sentirem cheias da força do Espírito. O sentimento de medo, estava deixando as pessoas presas no túmulo, enquanto lugar de morte. A experiência do túmulo vazio, contemplada por Madalena, João e Pedro precisava ser vivenciada por aqueles que estavam escondidos por medo dos judeus. O encontro com o ressuscitado passa a gerar um novo estado de vida: os medos passam a ser superados e abre-se espaço para que todas as pessoas ali presentes se sintam fortalecidas a romper as amarras e passem a proclamar os efeitos da ressurreição na vida de cada um deles e da comunidade de fé. Ele não está entre os mortos! Ele ressuscitou para a nossa alegria! E precisamos passar esta mensagem adiante, a fim de que os condenados pelas amarras dos sistemas promotores de medo, ganhem forças para se autoafirmarem enquanto pessoas e passem a vivenciar a experiência da liberdade dos Filhos de Deus.

Como estamos precisados de superar os medos que nos impedem a vivência da liberdade. Partilhe com alguém sobre o que está pondo amarras na sua vida! Este é o primeiro passo para a tomada de consciência em vista da superação e do reconhecimento da força que existe em você para resistir a tudo o que lhe está impedindo viver em plenitude.

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